Para economista, país cresce até 4% em 2013

26 de julho de 2012

Professor de Berkeley e especialista em bancos centrais, Eichengreen diz
que Brasil age bem ao desvalorizar o real. Consumo interno da China está caindo
e esfriamento asiático é maior que o anunciado, afirma
pesquisador.

A desaceleração da economia brasileira é temporária, e
a atividade deve recuperar velocidade no ano que vem e alcançar um crescimento
de até 4%, se o cenário externo ajudar, prevê o economista americano Barry
Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia (Berkeley).

Um dos
principais especialistas em sistemas monetários do mundo, ele diz que a redução
do crescimento na China foi o principal motivo para a parada da economia
brasileira.

“Um crescimento de 1,5% [para o Brasil] não é bom, não é
suficiente para continuar retirando pessoas da pobreza, mas não é negativo
diante da crise financeira atual”, afirmou Eichengreen, em entrevista à Folha de
São Paulo.

O economista observa que a China desacelerou muito e
rapidamente, o que afetou os preços das commodities vendidas pelo Brasil no
exterior. “E os europeus e os americanos não ajudaram”, afirma.

O país
asiático vinha crescendo a taxas acima de 10% e, neste ano, a projeção de
analistas é que alcance um crescimento de 7,5%.

Eichengreen traça um
cenário ainda mais negativo para o nosso principal mercado consumidor. Ele
suspeita que a China esteja esfriando num ritmo ainda mais veloz que o
estimado.

“O consumo doméstico chinês está caindo, está negativo. Isso
sugere que a economia está ainda pior do que os números oficiais
indicam.”

BC NO RUMO CERTO

Para o Brasil,
Eichengreen faz elogios à condução da política econômica. E afirma que o Banco
Central está “no caminho certo” quando atua no mercado forçando uma
desvalorização do real em relação ao dólar.

“Quando a moeda está
sobrevalorizada, como no ano passado, as pessoas reclamam que o Banco Central
não faz o suficiente. E, quando a desvaloriza, reclamam que ele faz demais”,
disse.

Eichengreen faz parte do seleto grupo de especialistas -entre os
quais o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o professor de Harvard
Kenneth Roggoff- que publicaram, no ano passado, o artigo “Rethinking Central
Banking”.

O artigo inspirou mudanças na atuação das autoridades
monetárias, ao defender que devem se preocupar não apenas com a inflação mas
também com o crescimento econômico e a regulação do sistema
financeiro.

Ontem, em palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso,
Eichengreen repetiu a recomendação e disse que isso requer dos bancos centrais
cada vez mais transparência em suas decisões.

“Nesse cenário, os bancos
centrais têm que atuar para reforçar a sua independência”,
disse.

FORA DE MODA

Eichengreen admite,
entretanto, que o Brasil deixou de ser o queridinho dos investidores
estrangeiros. Mas afirma que a mudança é positiva para o país.

“Eu acho
que não é bom para o Brasil ser tão atrativo para os investidores estrangeiros”,
afirmou.

O Banco Central divulgou ontem que o saldo de dólares no país
está negativo em

US$ 1,9 bilhão em julho. Até a sexta-feira passada,
houve mais saída do que entrada de moeda estrangeira no país, inclusive de
investidores no mercado financeiro.

Até junho, o saldo ficou positivo em
US$ 22,9 bilhões – 42% menor do que o do mesmo período de 2011.

O novo
humor do estrangeiro com o Brasil, diz Eichengreen, é reflexo do menor
crescimento da economia brasileira.

“Os investidores deram uma parada
para reavaliar e se perguntam: ‘Por que investir numa economia que cresce 1,5% e
não em outra que vai melhor’?”

O lado positivo dessa mudança, afirma ele,
é que o movimento provoca uma desvalorização adicional da moeda brasileira ante
o dólar, que tem efeito benéfico para as exportações.

Além disso, ajuda a
diminuir os custos de produção em dólar, que ficaram muito elevados nos últimos
anos com a valorização do real.

Para Eichengreen, mesmo com menos brilho,
o Brasil seguirá recebendo recursos, principalmente de europeus para o mercado
de ações.

* Folha de S.Paulo