País ficará estagnado em ranking de renda

16 de agosto de 2010



Brasil será a 5ª maior economia até 2032, mas continuará na 47ª posição em PIB per capita, diz Goldman Sachs


Peso do país no PIB mundial não mudará em 20 anos, diz EIU; economistas culpam baixa produtividade


Entre 2009 e 2032, o Brasil terá saltado da oitava para a quinta posição no ranking de maiores economias do mundo. Mas, em termos de renda per capita, o país permanecerá estagnado na 47ª posição em uma lista de 73 nações.


As projeções são do banco Goldman Sachs, que inventou o acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). 2032 é o ano em que a instituição prevê que, somadas, as economias dos Brics (no cálculo em dólares) alcançarão as do G7 (EUA, Reino Unido, Japão, Itália, Alemanha, França e Canadá).


A renda per capita é uma medida da riqueza e nível de desenvolvimento de uma nação, resultado da divisão do PIB (Produto Interno Bruto) pelo total de habitantes.


Em termos absolutos, o Goldman Sachs prevê um forte aumento no PIB per capita brasileiro (em dólares), que quase triplicará, alcançando US$ 21 mil em 2032.


Mas outros emergentes darão saltos maiores. Os destaques são algumas nações do Leste Europeu -principalmente devido à tendência de encolhimento de suas populações- e da Ásia.


CHINA


No caso da China, por exemplo, o PIB per capita crescerá cerca de seis vezes e encostará no brasileiro, levando o país a saltar da 56ª para a 48ª posição. Entre os demais Brics, a Rússia avançará cinco posições, e a Índia, apenas uma no ranking de renda per capita.


Saltos de produtividade são a chave para que países como Brasil e Índia, cujas populações continuarão a crescer a taxas elevadas, atinjam ritmo de crescimento suficiente para levar a expansão mais significativa de suas rendas per capita.


Mas, segundo o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), o Brasil está longe de trilhar esse caminho.


Produtividade é uma medida de eficiência da economia. Fatores como a quantidade e a qualidade do capital físico (como máquinas e equipamentos) e humano e a eficiência como eles são utilizados ajudam a explicar o ritmo de avanço da produtividade.


BAIXO INVESTIMENTO


No Brasil, os investimentos na formação de capital físico seguem muito baixos, equivalentes a cerca de 18% do PIB, ante mais de 45% na China, 28,7% em Cingapura e pouco mais de 20% na média da América Latina.


Além disso, a qualidade da educação ainda é baixa. “Há uma medida da qualidade do capital humano que são os testes de aprendizado internacional. Assim como o Brasil fica mal na foto em termos de capital físico, fica muito mal também quando participa de testes de aprendizado em todos os níveis escolares”, diz Giannetti.


Robert Wood, analista sênior da EIU (Economist Intelligence Unit), prevê que o Brasil crescerá a uma taxa média de 4,2% entre 2011 e 2030, quase o dobro dos 2,4% registrados entre 1981 e 2009. Ainda assim, diz ele, a economia brasileira manterá seu peso no PIB mundial estagnado em cerca de 3,3%.


A EIU tem projeções similares às do Goldman Sachs para a evolução da renda brasileira. Entre 2009 e 2030, o Brasil terá avanço modesto tanto no ranking de PIB per capita em dólares como em paridade do poder de compra (PPC, que ajusta os valores absolutos do PIB de acordo com o custo de vida em cada país) da consultoria, saltando da 47ª para a 46ª no primeiro caso e da 57ª para a 55ª no segundo.




PIB da China supera o do Japão no 2º tri



Economia japonesa se desacelera e deve perder para a chinesa em 2010 posto de 2ª maior do mundo, atrás da dos EUA


No fim dos ano 1980, PIB chinês era 7% do japonês, que, na época, parecia se encaminhar para o topo do ranking


A economia japonesa se desacelerou no segundo trimestre e perdeu para a China o posto de segunda maior do mundo -ao menos no período de abril a junho.


O PIB japonês cresceu 0,1% em relação aos três primeiros meses do ano, quando se expandiu em 1,1%, com a valorização do iene em relação ao dólar prejudicando o setor exportador e o consumo interno perdendo força.


O resultado é que o PIB japonês no segundo trimestre ficou em US$ 1,29 trilhão, ante US$ 1,34 trilhão dos rivais chineses, segundo cálculos do “Wall Street Journal”.


Os dados de abril a junho (que ainda estão sujeitos a revisão) indicam que irá se confirmar a previsão do banco central chinês de que o país passará já neste ano o Japão como a segunda maior economia global.


Não que o dado possa ser considerado realmente surpreendente. O Japão passou todos os anos 1990 e a atual década com baixo crescimento (nesse período, só teve uma expansão anual maior que 3%), enquanto a China acumulou taxas de avanço de mais de um dígito -até se tornar o principal motor da retomada global.


O próprio FMI prevê que a China irá passar neste ano o Japão como a segunda maior economia mundial, atrás apenas da dos EUA.


No ano passado, a distância entre os dois países era de US$ 150 bilhões (algo como o PIB anual do Chile). E a vantagem chinesa neste ano será de US$ 92 bilhões, prevê o Fundo, que calcula que o país terá um PIB de US$ 5,4 trilhões -o dos EUA chegará a US$ 14,8 trilhões.


Ainda que a distância do PIB per capita dos dois países seja enorme (o japonês, de US$ 40 mil, é quase dez vezes maior que o chinês), a vantagem de Pequim é um marco -ainda mais levando em conta a rivalidade histórica entre as duas nações- e algo impensável há 20 anos.


No fim da década de 1980, quando parecia que o Japão iria se tornar a maior economia do mundo, o PIB chinês representava menos de 7% do tamanho do japonês. Desde então, os chineses passaram Reino Unido, França e, em 2007, Alemanha.



Brics serão gigantes de renda média


Economias de Brasil, Rússia, Índia e China alcançarão as do G7, mas diferença em PIB per capita permanecerá grande


Mudança no ranking de maiores economias terá importantes impactos geopolíticos, de acordo com especialistas


Somadas, as economias dos Brics alcançarão as do G7 em 2032, e a distância entre os dois grupos crescerá em anos subsequentes. Mas a renda per capita média de Brasil, Rússia, Índia e China ainda será o equivalente a quase um terço da dos sete países industrializados em 22 anos.


Segundo projeções do Goldman Sachs, a renda per capita média dos Brics será US$ 21,57 mil em 2032, ante US$ 58,24 mil do G7 (EUA, Reino Unido, Japão, Itália, Alemanha, França e Canadá). Historicamente, essa será uma situação inédita.


A Rússia será o único Bric de renda alta, US$ 39,23 mil, ainda assim inferior à média do G7. China e Brasil (com cerca de US$ 20 mil de renda per capita) serão nações de renda média. E a Índia, com PIB (produto interno bruto) per capita de US$ 5.500, permanecerá pobre.


De acordo com economistas ouvidos pela Folha, essa nova configuração da ordem mundial terá impactos geopolíticos importantes que afetarão cada vez mais a agenda política e econômica global.


Os tópicos de discussão, resumidos abaixo, vão do futuro do G7 e do papel dos Brics nas instituições multilaterais à atratividade do modelo econômico chinês.


G7 versus G20


O chamado G20 (grupo que reúne países desenvolvidos e emergentes de grande peso econômico) provavelmente substituirá o G7 como principal fórum de debate e decisões políticas e econômicas. “Acho que a vantagem do G20 é que é um grupo global que inclui mercados emergentes que crescem a ritmo rápido”, diz Anoop Singh, diretor do departamento da Ásia do FMI.


Instituições multilaterais Para Singh, os emergentes terão peso crescente nas instituições multilaterais.
Mas, de acordo com Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, isso levará a um debate complexo: “Quem vai pagar pelo FMI? Serão as economias maiores, aquelas com mais reservas internacionais ou os mais ricos?”.


Modelo chinês Segundo Arthur Carvalho, economista-chefe da Ativa Corretora, um tema que será muito debatido é a atratividade do modelo econômico chinês, de economia capitalista, aberta, mas com forte planejamento do governo.


Esse foi o tópico do debate da semana passada promovido pela “Economist” em seu site. A pergunta proposta pela revista britânica era se a China oferecia um modelo de desenvolvimento melhor que o do Ocidente. Até a sexta-feira passada, a maioria dos leitores respondeu que não (58% ante 42%).


Risco de conflito O economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Insper, diz não acreditar que se formará uma nova hegemonia política e econômica em torno da China, que, segundo projeções do Goldman Sachs, ultrapassará os EUA como maior economia do mundo em 2027.


Mas vê o risco de conflitos econômicos entre a China e outras grandes potências, à medida que o país asiático expandirá a ritmo cada vez mais rápido sua presença e sua influência em outras partes do mundo, principalmente nos países pobres e em desenvolvimento.



G7 deveria ser extinto, afirma “pai” do Bric


Jim O’Neill é economista-chefe do Goldman Sachs, um dos mais importantes bancos de investimento do mundo. Mas talvez seja mais conhecido como o “pai” do termo Bric (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia e China).


Em entrevista à Folha, ele disse que, com a emergência dos Brics -que se tornarão as maiores economias do mundo em pouco mais de 20 anos-, o G7 (grupo de países avançados) talvez devesse deixar de existir.


Ele também afirmou que, para atingir taxas mais altas de crescimento de suas rendas per capita, países como Brasil e Índia terão de atingir “aumentos espetaculares de produtividade”. Em troca de e-mail posterior à entrevista com a Folha, O’Neill ressaltou que as perspectivas de progresso do Brasil não são ruins. O economista mencionou que o país está relativamente bem posicionado em um ranking feito pelo banco que leva em conta fatores como estabilidade macroeconômica, tecnologia, condições políticas e capital humano. Em 2009, o Brasil ocupou a 69ª entre 179 países nesse ranking, na frente dos demais Brics. (EF)


Folha – As economias dos Brics passarão as do G7 em 2032. Mas, em termos de renda per capita, o hiato entre Brics e G7 seguirá grande. Qual será o impacto disso na agenda de discussões global?
Jim O’Neill –
É um desenvolvimento interessante. Isso faz o arcabouço institucional global muito mais complexo. O G7, por exemplo, deveria talvez deixar de existir, já que não refletirá as maiores economias. Nesse sentido, o G20 é uma opção melhor. Há assuntos muito importantes em jogo e é muito provável que os países dos Brics terão muito a dizer.


Suas projeções mostram que o Brasil, entre 73 países, permanecerá na 47ª posição em termos de PIB per capita entre 2009 e 2032. A Índia é um caso parecido com o brasileiro. O que explica isso?
A lógica por trás dessas projeções é que as populações do Brasil e da Índia vão crescer significativamente. Eles têm uma demografia mais jovem que a de outros países, e, para que a renda deles se acelere ainda mais em termos relativos, terão de atingir taxas de crescimento de seus PIBs (Produto Interno Bruto) ainda maiores. Isso vai requerer aumentos espetaculares de produtividade.


Por que alguns países do Leste Europeu e da Ásia, ao contrário da maioria das nações da América Latina, atingirão progresso significativo no aumento de suas rendas per capita em termos relativos?
Eu acho que no cerne dessa diferença está a produtividade, e na raiz disso está provavelmente a educação.


* de Érica Fraga, da Folha de S.Paulo / por Fenacon Notícias