Não basta querer crescer, é preciso também planejar

17 de dezembro de 2012

Empresário deve traçar metas e calcular o investimento requerido para
expandir; cálculos evitam prejuízos. Ideal é prever cenários favoráveis e
negativos para que a companhia não fique exposta a crises
inesperadas.

Na Redalgo, empresa que desenvolve jogos pedagógicos,
não é só a confraternização de fim de ano que mobiliza a equipe. A elaboração do
planejamento anual também faz o grupo, formado por três funcionários, se reunir
em dezembro em torno de um mesmo objetivo: impulsionar os negócios no ano
seguinte.

Criada em 2007, a pequena empresa sofreu neste ano os efeitos
de um planejamento malsucedido em 2011. De acordo com o empresário Diogo
Beltran, 35, o projeto falhou ao prever apenas o crescimento de vendas, deixando
de lado gastos com marketing e estratégia.

“Poderia ter colocado os
produtos em vários mercados. Não custava nada traduzir os jogos para o espanhol
e exportá-los. Teria crescido mais”, afirma.

Para o próximo ano, tudo já
está organizado. O planejamento -finalizado no início do mês em parceria com uma
consultoria- contempla vendas para todos os países da América Latina e a
abertura de dois escritórios no exterior: no México e no Canadá.

“O
empresário precisa ter humildade para modificar seu planejamento sempre que
necessário”, diz o empresário, que passou a fazer reuniões semestrais com a
equipe para avaliar os próximos passos do negócio.

Como Beltran, micro,
pequenos e médios empresários devem redobrar as atenções na hora de realizar o
planejamento anual. Na avaliação de Bruno Caetano, diretor do Sebrae-SP (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), um bom projeto não só reduz a
mortalidade do negócio como facilita seu crescimento.

De acordo com a
entidade, a cada 10 micro e pequenas empresas que abrem as portas no país, 7
conseguem sobreviver aos dois primeiros anos de atividade.

A falta de
planejamento, afirma Caetano, é a principal justificativa do índice.

“O
maior erro dos empresários é achar que uma boa ideia é suficiente para fazer a
companhia crescer. E muitos só enxergam isso quando a empresa fecha as
portas.”

Previsão do Futuro

Prever o próximo ano
é importante para que o empresário trace cenários favoráveis e negativos para o
negócio, argumenta Marcio Iavelberg, dono da Blue Numbers, consultoria
especializada em pequenas e médias empresas.

“Com o planejamento em mãos,
fica mais fácil contornar os imprevistos sem prejudicar o faturamento da
companhia”, diz.

Para evitar “sustos”, Ricardo Brito, 27, diretor
comercial da Pimpolho Calçados, faz a projeção orçamentária com valores
estourados para cima e para baixo. Assim, está pronto para qualquer variação
econômica e cambial.

“Já reservei verba para campanhas publicitárias que
não foram necessárias e desviamos o recurso para outros setores”, diz Brito, que
fechou o planejamento anual da empresa há duas semanas.

‘Discutir
a relação’ ajuda a traçar projeto

Empresário deve fazer uma
análise da empresa, em itens como gastos, objetivos, faturamento e número de
clientes. Planos para o ano novo devem ser continuação do planejamento
estratégico elaborado na criação do negócio.

Antes de elaborarem o
planejamento anual, os micro, pequenos e médios empresários devem fazer uma
análise do próprio negócio. Nela, devem ser avaliados gastos, faturamento,
número de clientes e objetivos da empresa. O ideal é colocar tudo no
papel.

“O melhor planejamento é o que se adapta à realidade do
empresário”, aconselha Bruno Caetano, diretor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

De acordo com o especialista,
além do balanço de 2012, o empreendedor deve prever como estará o setor em 2013,
avaliar os concorrentes e estabelecer metas adequadas a essa
realidade.

“Há vários tipos de planejamento: estratégico, orçamentário,
comercial, mercadológico, de gestão de pessoas e de produção”, detalha
Caetano.

A empresária Adriane Zagari, 35, faz um projeto para cada um dos
cinco setores da HZ Eventos e Casting: recursos humanos, casting, compras,
financeiro e comercial. “Cada gestor fica responsável por traçar os planos do
seu segmento”, afirma ela.

O planejamento anual, destaca Ricardo
Teixeira, sócio da área de consultoria da Deloitte, deve ser uma atualização do
planejamento estratégico -o que detalha o perfil de empresa, seus objetivos a
longo prazo e geralmente é criado quando a empresa é lançada no
mercado.

“O maior desafio dos empresários é dizer não para propostas que
fujam dos planos da companhia”, destaca.

No planejamento estratégico da
Canadá Turismo, operadora turística, está definido o foco do negócio: vender
viagens para as classes A e B.

De acordo com o proprietário Fabiano de
Camargo, 33, a empresa tentou seguir outros rumos, mas desistiu.

“A
desaceleração da economia fez com voltássemos a focar nos que têm maior renda
familiar”, afirma ele.

* Folha de S.Paulo