Governo cria comissão para avaliar desoneração da indústria

24 de agosto de 2012

Viabilidade de tornar permanente a desoneração da folha de pagamentos da
indústria, iniciada com o Plano Brasil Maior, será avaliada por grupo que reúne
governo, empresários e trabalhadores.

A primeira reunião para
instalar a comissão que vai avaliar e acompanhar a desoneração da folha de
pagamentos da indústria foi convocada às pressas na tarde de quarta-feira e
marcada para hoje na Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da
Fazenda, segundo o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio.

“Mandaram a
convocação hoje (quarta-feira) à tarde”, disse Lúcio. O Dieese será um dos
representantes dos trabalhadores na comissão.

O decreto que cria a
Comissão Tripartite de Acompanhamento e Avaliação da Desoneração da Folha de
Pagamentos (CTDF) foi publicado há quase cinco meses, em 3 de abril deste ano –
no mesmo dia da Medida Provisória 563, que trata da segunda fase do Plano Brasil
Maior. O decreto dava o prazo de 30 dias para indicação dos representantes da
CTDF.

O Ministério da Fazenda rebateu Lúcio, dizendo que a convocação
para a primeira reunião não ocorreu às pressas e que os participantes foram
avisados na terça-feira, 21. Acrescentou que a indicação dos nomes foi feita,
inclusive, antes do prazo de 30 dias definido no decreto que criou a
comissão.

Agora, com o início dos trabalhos, a comissão será presidida
pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland.
Outros representantes do Governo Federal, dentre eles a Receita Federal,
ministérios e Secretaria-Geral da Presidência da República, empresários e
trabalhadores formarão o grupo.

Segundo Ganz, do Dieese, o caminho para
mudar permanentemente o padrão de financiamento da Previdência social exige uma
discussão ampliada. “Com a comissão poderemos mensurar os impactos da
desoneração e discutir melhor, caso o governo queira partir para uma desoneração
mais ampla e definitiva”.

Os déficits previdenciários decorrentes da
desoneração do Plano Brasil Maior serão cobertos pelo Tesouro
Nacional.

Impactos

Segundo fonte do governo, os
estudos sobre os impactos da desoneração da folha de pagamentos dos setores de
tecnologia da informação e comunicação, móveis, confecções e couro já foram
iniciados. Esses quatro setores foram os primeiros a ter o benefício, com a
Medida Provisória 540 de agosto de 2011, na primeira fase do Plano Brasil
Maior.

Ao invés de pagar a Contribuição Previdenciária Patronal sobre 20%
da folha de salários, a incidência passou a ser sobre o faturamento, de 2,5%
para TI e comunicação e 1,5% para móveis, confecções e couro.

“A
tendência é de generalização dos setores desonerados. Me parece que o governo
está aberto a uma discussão com os setores da indústria sobre o patamar de 1%
sobre a folha de pagamento”, diz o diretor de Políticas e estratégia da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho
Fernandes.

As projeções da Receita Federal mostram que a renúncia fiscal
consequência da desoneração da folha de pagamentos dos quatro setores é da ordem
de R$ 2 bilhões em 2012. O montante representa 0,7% de toda a arrecadação
previdenciária.

Na segunda fase do Brasil Maior, outros setores serão
desonerados, como têxtil, plásticos, material elétrico, autopeças, ônibus, naval
e aéreo, e as alíquotas serão menores, de 1% a 2%. A desoneração total anual
estimada é de R$ 7,2 bilhões, segundo o Ministério da Fazenda. A Medida
Provisória 563, de abril de 2012, ainda aguarda sanção da presidência para
entrar em vigor.

Prioridades

Segundo pesquisa
sobre prioridades para a indústria em 2012, feita pela CNI em fevereiro, a
desoneração da folha de pagamentos é o segundo assunto prioritário no tema
tributação, importante para 76% dos representantes de associações nacional dos
setores, atrás somente da desoneração dos investimentos (80%).

Entre 2007
e 2011, as desonerações somaram, pelo menos, R$ 97,8 bilhões. Desse valor, cerca
de um terço (R$ 31,0 bilhões) direcionados para investimentos, segundo o
Ministério da Fazenda.

* O Estado de São Paulo