Estados e municípios terão receita menor

26 de julho de 2012

A desaceleração da economia e as desonerações tributárias feitas pelo governo
federal estão afetando também as receitas de Estados e municípios. Ainda não é
conhecida a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) em junho, mas o resultado de janeiro a maio mostrou um aumento real muito
pequeno da receita total do tributo, em comparação com igual período do ano
passado, embora o comportamento não tenha sido homogêneo, com alguns Estados
tendo um desempenho melhor do que outros. Ao mesmo tempo, a projeção do governo
para as transferências da União aos governos estaduais e às prefeituras foi
reduzida em R$ 6,3 bilhões, em relação àquela inicialmente
divulgada.

Quando editou o primeiro decreto de contingenciamento das
dotações orçamentárias, em fevereiro, o governo estimou que as transferências
constitucionais e legais da União para Estados e municípios ficariam em R$ 182,6
bilhões. No relatório de avaliação de receitas e despesas relativo ao terceiro
bimestre, a estimativa caiu para R$ 176,3 bilhões. Nesse total, estão incluídos
os repasses ao Fundo de Participação dos Estados (FPE) e ao Fundo de
Participação dos Municípios (FPM), os subsídios aos fundos constitucionais, o
salário educação, as compensações financeiras (royalties), a receita da
CIDE-Combustível e outras menos relevantes.

As transferências do FPE e do
FPM estão caindo, em relação ao programado inicialmente, por causa do fraco
desempenho da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) em 2012. Esses fundos recebem percentuais das receitas
desses dois tributos. O governo espera arrecadar menos R$ 8,7 bilhões de IR este
ano, em relação ao que estimou no primeiro decreto de contingenciamento, de
acordo com o relatório do terceiro bimestre. Para o IPI, a frustração de receita
prevista é de R$ 2,05 bilhões.

O comportamento da arrecadação do IR
reflete a baixa rentabilidade das empresas neste ano, fruto da desaceleração
econômica. Houve uma queda significativa do IR e da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL) das empresas que apuram os dois tributos pelo lucro real
(estimativa mensal e balanço trimestral). A frustração da receita do IPI está
relacionada não apenas com o desaquecimento da economia, mas também com as
desonerações feitas pelo governo federal.

As alíquotas do IPI foram
reduzidas para os veículos automotores novos, eletrodomésticos da linha branca,
móveis, luminárias e papel de parede. A Receita Federal ainda não estimou o
estrago efetivo produzido na arrecadação do IPI por essas desonerações. O único
dado disponível é a arrecadação do IPI-automóveis, que caiu 73,7% em junho, na
comparação com o mesmo mês do ano passado.

No caso da CIDE-Combustível, o
impacto da desoneração feita pelo governo é direto. A União divide a receita da
CIDE-combustível com os Estados. No fim do ano passado, o governo decidiu
reduzir as alíquotas da CIDE incidente sobre gasolina e diesel para evitar que o
aumento de preços feito pela Petrobras não fosse repassado aos consumidores. Em
junho passado, o governo decidiu zerar as alíquotas da CIDE, com o mesmo
objetivo. A área econômica esperava arrecadar R$ 5,3 bilhões com esse tributo
neste ano, de acordo com o primeiro decreto de contingenciamento. Agora, acha
que só arrecadará R$ 2,9 bilhões. Os Estados deverão perder algo em torno de R$
700 milhões com essa desoneração.

A queda dos repasses ao FPE e ao FPM
vai afetar principalmente os Estados e municípios do Norte, Nordeste e
Centro-Oeste, que ficam com 85% dos recursos desses fundos. Mas a redução da
arrecadação da CIDE-Combustível, em função de um objetivo de política econômica,
afetará a todos. Em 2009, quando os recursos do FPE e do FPM também caíram
substancialmente, o governo federal criou um mecanismo de compensação financeira
aos Estados e municípios. Ainda não há, neste ano, um movimento visível de
governadores e prefeitos com a mesma reivindicação.

A receita do ICMS,
principal tributo estadual, dá sinais de que não está resistindo à desaceleração
da economia. De acordo com dados do Conselho Nacional de Política Fazendária
(Confaz), a receita do ICMS de janeiro a maio deste ano atingiu R$ 126,12
bilhões, ante R$ 119,27 bilhões no mesmo período de 2011 – um crescimento
nominal de apenas 5,76%, o que dá um aumento real (atualizado pelo IPCA)
inferior a 1%.

A arrecadação do ICMS está sendo afetada principalmente
naqueles Estados com grande concentração industrial, como é o caso de São Paulo.
Houve, de dezembro a maio, uma queda da produção industrial de 3,08% em
comparação com igual período do ano passado, de acordo com o IBGE. Mas, em
muitos Estados, o efeito negativo da arrecadação do ICMS sobre as indústrias
está sendo compensado pelo aumento da receita desse tributo sobre os produtos
importados.

Com a redução do ritmo da receita do ICMS e a queda das
transferências da União, o que está no horizonte é uma impossibilidade de
cumprimento da meta de superávit primário para este ano por parte dos Estados e
dos municípios. A última vez que eles cumpriram a meta, a bem da verdade, foi em
2008, de acordo com os dados do Banco Central. De lá para cá, a União tem sido
obrigada a fazer a sua parte e complementar a parte de Estados e municípios, com
o objetivo de cumprir a meta fiscal do setor público consolidado.

No
acumulado de 12 meses até maio, o resultado fiscal de Estados e municípios,
mesmo incluindo as empresas estaduais e municipais, está em R$ 32,99 bilhões,
bem abaixo da meta fixada em R$ 42,85 bilhões – algo como 0,95% do Produto
Interno Bruto (PIB). Essa meta ficará mais difícil de ser obtida porque a
presidente Dilma Rousseff autorizou novos empréstimos aos governos estaduais, o
que deverá ampliar as suas despesas primárias deste ano. A questão é saber se a
União terá condições de complementar o superávit de Estados e municípios, mesmo
com a forte frustração de receita que está enfrentando.

* Valor
Econômico