Alta dos preços é desafio para próximo comandante do Banco Central, estimam economistas

29 de novembro de 2010

A alta dos preços que vem sendo registrada ultimamente será um
desafio para o novo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini,
que assume o cargo em 2011.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), nessa semana, o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou uma variação de 0,86% em
novembro. O índice, que é uma prévia do IPCA, usado pelo governo para
fixar as metas de inflação, supera a taxa de outubro, que foi de 0,62%.
Com a variação, o índice eleva o acumulado do ano para 5,07% e o dos
últimos 12 meses, para 5,47%.

O aumento dos preços é sentido principalmente na hora das compras de
alimentos. A alta do grupo alimentação e bebidas atingiu 2,11%, com
destaque para a carne. O consumidor chegou a pagar, em média, 6,10% a
mais pelo quilo da carne, que, ao longo de 2010, já acumula uma alta de
20,49%, segundo o IBGE.

E a expectativa é de continuidade no aumento dos preços, segundo
projeções de analistas do mercado financeiro consultados pelo BC. De
acordo com a última projeção, a estimativa é que o IPCA feche 2010 em
5,58%. Para 2011, a projeção é de 5,15%.

Com isso, a inflação deve ficar acima do centro da meta de 4,5%,
estabelecida pelo BC. O instrumento usado pela autoridade monetária para
conter a demanda por bens e serviços, e por consequência, a inflação, é
aumentar a taxa básica de juros, a Selic. Essa meta de inflação tem a
variação de dois pontos para baixo e dois para cima, podendo chegar a
6,5%.

Na avaliação de economistas, como Fábio Kanczuk, professor da
Universidade de São Paulo (USP), o BC parou de subir o juros básicos
este ano no momento errado. Este ano, o Comitê de Política Monetária
(Copom) do BC subiu a Selic de 8,75% para 9,5% ao ano, em abril. Depois,
em junho, para 10,25% ao ano e, em julho, para 10,75% ao ano.

Nas reuniões seguintes – setembro e outubro – o BC manteve o patamar
da taxa. “Analistas, como eu, achamos estranho, quando o BC parou de
subir os juros antes de deter a inflação”, afirmou Kanczuk. Segundo ele,
nesse período, a economia ainda estava muito aquecida.

O economista Jean Barbosa também considera que o encerramento do
ciclo de alta da Selic foi prematuro. “O ciclo deste ano não foi
suficiente. Havia condições de demanda em ritmo muito robusto”, opinou.
Para ele, em 2011, a inflação de alimentos deve desacelerar um pouco,
porque não se espera que haja os mesmos problemas climáticos, no país e
no exterior, que elevaram os preços.

Entretanto, com “a forte” procura por produtos e serviços e a
influência do crescimento da China, a expectativa é que “outros preços
sigam o ritmo da demanda doméstica”. “O crescimento robusto da China
está pressionando a demanda por alimentos no mundo”, acrescentou
Barbosa.

Até mesmo o economista Décio Munhoz, que não concorda com a política
de elevação da Selic, por considerar que gera aumento de custos para os
investimentos e faz crescer a dívida pública, afirma que “dentro da
linha de condução deles, era preciso ter mais aumento da Selic”. “Em
2008, surgiu a crise financeira e, aí, não houve internalização do
aumento dos preços do comércio internacional. 2009 foi um ano de
recuperação lenta da economia. Agora, quando se recuperam as perdas, os
preços internacionais estão se internalizando”, avaliou Munhoz.

Na ata da última reunião do Copom, em outubro, o BC avaliou que,
mesmo com aumento dos preços de alimentos, prevalece o entendimento de
que a inflação irá convergir para o centro da meta. Para o Copom, o
cenário favorável ao cumprimento da meta de inflação “se deve ao ajuste
da taxa básica implementado desde abril”. “Também contribuem para isso
informações que emergiram, desde então, indicando melhora no balanço de
riscos para a dinâmica dos preços administrados, bem como a
desaceleração da atividade nos dois últimos trimestres, que foi mais
intensa do que o vislumbrado no início deste ano”.

A última reunião do Copom deste ano está marcada para os dias 7 e 8
dezembro. Em janeiro, será feita a primeira reunião do comitê já com os
integrantes do novo governo.

* Agência Brasil